PONTE RIO-NITEROI

Uma ponte com muitas histórias e alguns defeitos.

Não é possível negar a importância da Ponte Rio-Niteroi no contexto nacional. É um marco da engenharia nacional quando empregou técnicas pioneiras para a sua construção:

1- Método construtivo baseado na montagem sucessiva de aduelas pré-fabricadas;

2- Emprego de equipamento, treliça lançadeira, para içar as aduelas.

A estrutura do tabuleiro da ponte é formada por 2 aduelas que justapostas, lado a lado, oferece um tabuleiro com o total de 26,60 metros.

Inaugurada no ano de 1974, a ponte foi ficando velha mas, felizmente, foi recebendo, na medida do possível reparos mantenedores.

MAS, as necessidades dos usuários evoluíram. E hoje, os usuários de hoje são bem mais exigentes que os usuários daquela época e a ponte oferece alguns riscos.

Na época da inauguração, em 4 de março de 1974, cada pista tinha 3 faixas de rolamento. Veja foto do Presidente da República em seu Rolls Royce Presidencial e observe que a pista tem 3 faixas:

As 3 faixas de rolamento seguiam um padrão americano e foi projetada em 1967 com 3 faixas de 3,67 metros cada. Havia uma folga de 60 centímetros em cada lado da pista:

Mas tarde, resolveu-se melhorar a segurança dos usuários e adaptou-se uma Faixa de Acostamento no lado direito, faixa esta conseguida à custa da diminuição da largura das três faixas de rolamento que foram diminuídas de 3,67 para 3,40 metros:

Veja como ficou a Faixa de Acostamento:

Outra foto mostrando a Faixa de Acostamento:

No ano de 2009, com a intenção de "aumentar a capacidade" (coisa de brasileiro) foi introduzida de força forçada, mais uma faixa, passando as já estreitas 3 faixas de 3,40 metros para 4 faixas de 3,00 metros de largura cada, ainda mais estreitas. Para isso foi sacrificado o Acostamento considerávelmente o risco dos motoristas que são surpreendidos por imprevisíveis porém ocorríveis desarranjos mecânicos e elétricos e estouro de pneus. Afinal, são 13 quilômetros e nesta extensão muita coisa pode acontecer.

Veja uma foto atual:

Para atender casos de pane em veículos, foi construída uma área de escape, como se fosse  um acostamento, num dos vãos próximo ao vão central. Veja uma foto da época da construçâo:

Era uma viga pré-fabricada apoiada sobre duas vigas em balanço:

A viga é apoiada sobre pilares de reforço construídos junto aos pilares existentes:

Depois das vigas prontas, utilizou-se um enorme guindaste para içar a viga pré-fabricada e assentá-la sobre as vigas:

Mesmo com tais melhoramentos, a segurança do tráfego ao longo dos 13 km da ponte é precária.

Os veículos comerciais de hoje (ônibus e caminhões) requerem mais largura  para o seu trafegar seguro. Os espelhos retrovisores externos ganharam corpo e tamanho.

Antigamente, os espelhos retrovisores eram
pequenos e pouco salientes:
Atualmente, os espelhos se projetam bastante
podendo chegar a 40 centímetros:

Um caminhão baú, para saber o movimento que vem por detrás, precisa de espelhos retrovisores externos bem salientes, mais largo que a largura do baú:

Como se pode observar na figura acima, o caminhão ocupa uma largura de pelo menos 3,40 metros (quando parado), mas posto em movimento precisa de uma largura de folga de segurança para um não bater no outro.

A norma técnica que disciplina as largura das faixas de rolamento emfunão da Classe da rodovia, a norma DNIT-742, estabelece, para uma Rodovia Clase Especial (Classe Zero) como a Ponte Rio-Niteroi que apresenta tráfego bem maior que o limite de 5.500 VDM, determina que uam faixa de rolamento de apenas 3,60 metros é suficiente para a segurança.

Mas os tempos são outros. Um caminhão de grande porte ou mesmo os ônibus rodoviários modernos precisam bem mais que 3,60 metros de faixa para poderem trafegar com segurança:

AS DISCUSSÕES:

Cansado dos engarrafamentos diários um grupo de empresários fluminenses, reunido em julho de 2005 na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, propôs a construção de uma segunda ponte, paralela à Rio-Niterói. Naquele encontro, eles verbalizaram o que se passa até hoje na cabeça dos motoristas, quando precisam cruzar a Ponte em horários de pico: um novo caminho. Mas o engenheiro Márcio Roberto de Morais Silva, presidente da concessionária CCR Ponte, garante que a ligação Rio-Niterói não precisa de outra ponte. Para desatar o nó do trânsito, afirma, a saída é melhorar os acessos.

Ao chegar aos 40 anos, a Ponte atravessa diariamente 150 mil veículos. Inicialmente, foi planejada pelo regime militar, no governo Costa e Silva, para uma capacidade máxima de 50 mil carros. Para suportar um movimento três vezes maior, teve de sofrer adaptações, como a construção de uma quarta faixa nos dois sentidos em 2009. As mudanças permitiram que a Ponta passasse a suportar um fluxo de 7 mil veículos por hora em casa sentido.

O contrato da CCR Ponte (formado pelos grupos Soares Penido, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, além de 49% de ações no mercado) termina em abril do ano que vem. A concessionária queria fazer as obras mais urgentes, mas a publicação e edital no mês passado, abrindo o processo de renovação da consessão, deixou claro que o governo federal pretende entregar a solução para a futura administradora. Qual será o "promissor" futuro de nós pobres usuários da ponte?

Entre duas empreiteiras, a Empreiteira A que apresente um proposta com preço baseado na construção com largura de faixa de 4,30 metros e a Empreiteira B que apresente uma proposta com preço baseado na faixa oficial de 3,60 metros, a Lei das Licitações n. 8.666 vai apontar para a Empreiteira B que terá uma custo, obviamente, menor que a da Empreiteira A.

 Antigamente, antes da Lei 8.666, as licitações para construção e reformas eram feitas com o Projeto Executivo em mãos e o projeto executivo era obrigado a indicar a largura da faixa, que necessariamente apontaria a faixa de 4,30 metros. Hoje a licitação é feita com o Projeto Básico que não precisa fazer esta indicação nos desenhos declarando apenas que as larguras são as da norma oficial.

Mas, a tal "norma oficial" é a DNIT-742 emitida por uma autoridade federal e, portanto, de obediência obrigatória mas que ao obedecê-la estaremos criando um "produto viciado impróprio para o consumo". É imprescindível a atualização da norma.

A Lei Federal n. 10.233 de 5 de junho de 2001 que cria o DNIT, a ANTT,ANTA e o CNIPT determina que nos Contratos de Concessão, a concessionária está obrigada a:

Art. 37 - III: adotar as melhores práticas de execução de projetos e obras e de prestação de serviços, segundo normas e procedimentos técnicos e científicos pertinentes, utilizando, sempre que possível, equipamentos e processos recomendados pela melhor tecnologia aplicada ao setor.

Fica bem clara a responsabilidade da concessionária para com a segurança dos usuários e não basta ficar se protegendo à sombra de regulamentos administrativos (com alegações do tipo "está tudo dentro da norma") pois o parágrafo III do artigo 37 deixa bem clara a necessidade de seguir, além das normas, os "procedimentos técnicos e científicos" e o desenho abaixo deixa bem clara as larguras mínimas que devem ser adotadas, a necessidade de acostamento nas duas laterais e também previsão de mais uma faixa para amplição futura.

ET-12\RMW\trafegando\PonteRioNiteroi.htm em 30/06/2015, atualizado em 03/07/2015 .