ACAMPAR EM SEGURANÇA

 

O RAIO é um fenômeno natural, próprio da natureza.

Vem acontecendo desde os primórdios da vida, alias, dizem que a própria vida teve início com o centelhar de uma fagulha elétrica que produziu a síntese para as primeiras proteínas.

É produzido pelo atrito das nuvens que resultam em estática. Ocorrem de forma contínua porém é imperceptível pois as cargas elétricas envolvidas são de pequeno porte. Com a ajuda do vento ganham ou perdem umidade, variando assim a sua densidade e temperatura, e vão flutuar em altitudes próprias para cada tipo de nuvem.

Dias quentes de verão aumentam a temperatura da superfície terrestre produzindo muito ar quente. Frentes frias aprisionam o ar quente impedindo a sua subida

Com o passar das horas, mais ar quente é produzido aumentando a pressão ascendente até um determinado ponto quando ocorre a ruptura da camada de nuvens:

A fuga do ar quente na forma de corrente ascendente cria um vazio que atuando como um vácuo atrai o ar da redondeza.

A atração do ar da redondeza produz um vento rápido que não chega a ser um vendaval mas produz ventos de mais de 100 km/h. Telhados são destelhados, árvores são arrancadas. Dependendo do local carros são arrastados.

A corrente quente ascendente ganha impulso e atinge camadas a grande altitude onde a temperatura é bem fria, 40 a 60 graus negativos.

As gotículas de umidade contidas no ar quente e úmido congelam e atraídas umas pelas outras formam pedras de gelo que, com o peso, começam a cair.

Então formam-se diversas correntes na vertical, umas de ar quente ascendente e outras de granizo descendentes. O atrito produzido gera muita eletricidade estática. Surgem nuvens pretas e o céu fica escuro.

Mesmo não conhecendo o fenômeno, qualquer pessoa tem o conhecimento intuitivo dos sintomas que prenunciam a chegada de um Temporal, caracterizado por nuvens pretas mescladas com nuvens brancas num agito frenético como se fosse um grande milk-shake.

Na cidade ou no campo, qualquer um diria: "Vai cair um pé-d'água"

Esta mistura frenética produz muita estática e as nuvens precisam descarregar. Na cidade ou no campo começam a pipocar descargas que chamamos de RAIOS, seguido de barulhos de explosão que chamamos de TROVÃO. As primeiras descargas são invisíveis e depois, como se as primeiras tivessem aberto o caminho, eletrificando o trajeto, surgem as grandes descargas. São valores muito elevados de descarga elétrica, mais de 50 milhões de Volts. Se um pequeno choque elétrico de 110 Volts que levamos na tomada da pia da cozinha já nos dá um grande susto, imagine um choque de 50 milhões de Volts.

As primeiras descargas, mesmo invisíveis, também matam pois são de voltagem elevada, coisa de um milhão de Volts.

Aquela experiência com o Gerador Van de Graaff, muito comum em feiras de ciências dá uma idéia da propagação e da ação da estática:

 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS:

As mudanças climáticas ocorridas nos últimos anos está causando uma mudança no comportamento das chuvas e dos raios. As chuvas trazem a mesma quantidade de água mas a intensidade da chuva tem aumentado, isto é, a mesma quantidade cai porém num espaço de tempo mais curto. Os raios também têm intensificado seu poder. Lugares que não ofereciam espetáculos de raios estão apresentando quedas.

Na cidade, há leis obrigando todos os prédios, monumentos e torres a terem um componente de proteção humana chamado Pára-Raios. Ele tem a função de "atrair" o raio e conduzi-lo rapidamente para descarregar a energia no solo.

Mas no campo não há instalações de proteção.

Então, preparamos uma série de Fatores de Risco representando situações em que há risco de queda de raios.

Por uma questão de didática, apresentaremos os fatores isoladamente mas estando no campo você deve levar em consideração todos os fatores agindo de forma combinada.

1o Fator de Risco: Árvore de Grande Porte.

Quando começa a cair uma chuva forte é instintivo procurar a proteção sob uma árvore. Os humanos fazem isso e os animais também. São muito comuns casos de morte por estar acampado ou descansando debaixo de uma árvore.

A árvore de grande porte se eleva, em geral, a alturas maiores que as demais árvores do entorno. Então se torna ponto preferencial para a queda do raio.

A umidade da árvore é o meio condutor da eletricidade. Quanto mais úmida e verde maior o poder de "atração". Quando o raio passa por dentro da árvore, a corrente elétrica produz calor (pode chegar a 400 graus Celsius) que vaporiza instantaneamente a água como numa explosão que "vira-do-avesso" a árvore.

Vai acampar? Achou um bom lugar debaixo de uma árvore?

Desejando montar acampamento debaixo de uma árvore de grande porte, você tem 2 alternativas para evitar a eletrocução:

ALTERNATIVA 1 - Local afastado. Montar o acampamento em local bem afastado da árvore, algo como 2 vezes a altura da mesma.

ALTERNATIVA 2 - Aterrar a Árvore.

Esta e outras situações, como veremos, requer o emprego de uma haste de aterramento de cobre ligada por cabo condutor também de cobre. Então deve ser equipamento obrigatório, como o estojo de primeiros socorros, quando vamos acampar.

Veja uma foto da haste de cobre e do cabo:

A haste vende em qualquer loja de material elétrico. Tem em diversos comprimentos. Para efeito de acampamento vamos adotar a haste de 2,00 metros de comprimento. É um comprimento bom para o aterramento e cabe em qualquer veículo.

O cabo também vende em qualquer loja de material elétrico. Tem em diversas "bitolas". Para efeito de acampamento vamor adotar o cabo de 16 mm2 de seção ou 4,6 mm de diâmetro ou AWG 5. O comprimento vai depender o tamanho do acampamento e do tipo de local onde se pretende montar o acampamento.

Na alternativa presente, veja como poderia ser o Pára-Raios:

Colocar um aviso na árvore, pois ela é fator de risco, isto é, quando um raio estiver caindo por ela, voltagem elevada de mais de 50 milhões de Volts estará passando. Se alguém estiver encostado na árvore irá receber parte desses 50 milhões de Volts.

Então não é necessário alertar sobre o perigo de usar a árvore de grande porte ou a mais alta como componentes de utilidades.

 

2o Fator de Risco: Local aberto perto de Grupo de Árvores.

Locais abertos com grupo de árvores nas proximidades (proximidade é uma distância de 2 vezes a altura da árvore) podem produzir raios, atraídos pelas árvores.

É difícil aplicar a solução sugerida no fator de risco acima pois teríamos que instalar uma haste em cada árvore. Então sugerimos as seguintes alternativas:

ALTERNATIVA 1 - Local afastado. Montar o acampamento em local bem afastado da árvore, algo como 2 vezes a altura da árvpre mais alta.

ALTERNATIVA 2 - Proteger as Barracas.

Instalar um Rede Aérea de Aterramento. Trata-se de um cabo de cobre nu esticado entre 2 ou mais suportes, podendo ser varas de bambus, e com as pontas conectadas em hastes de aterramento.

O cabo esticado vai oferecer um cone, ou melhor, um prisma de proteção com vértice no cabo esticado na horizontal e descendo num ângulo de 45 graus de cada lado. Tudo que estiver "dentro" do prisma de proteção estará livre da queda do raio.

A altura H vai depender da largura que se deseja proteger.

Havendo muitas barracas, pode-se aumentar a largura de proteção, usando suportes mais altos ou colocando mais cabos nas laterais:

 

3o Fator de Risco: Uso da Árvore mais Alta.

Na prática da tirolesa e de outras ativides como o arborismo se dá preferência a Árvores Altas.

Incumbir sempre alguém (um monitor) para ficar com a "antena ligada" o tempo todo e caso se inicie a formação de nuvens escuras, interceder para que a atividade seja IMEDIATAMENTE interrompida e os praticantes desçam IMEDIATAMENTE da árvore.

É triste mas não posso deixar de mencionar o caso de uma mãe que, sentindo o perigo de raios e vendo que o filho ainda estava dentro da água, correu e acenou para o filho sair da água. O gesto de aceno serviu como pára-raios e a mãe recebeu uma descarga. Um fotografo tirou, sem querer, uma foto na hora exata em que o raio estava caindo sobre a pessoa.

4o Fator de Risco: Totens, portais e outras estruturas altas.

Construções altas devem ser aterradas, em especial se o local é aberto, descampado.

Utilizar um esquema parecido com hastes do primeiro caso. MAS não descer o Cabo de Descida junto aos troncos, caso a estrutura seja programada para uso mesmo com mal tempo. Algumas vezes, o totem pode ser usado na Cerimônia de Abertura e se pretende "abrir" o evento mesmo que debaixo de chuva. Então, bolar uma descida que fique pelo menos 2 metros distante de qualquer parte do totem.

5o Fator de Risco: Atividades a céu aberto.

As atividades realizadas a céu aberto devem ser permanentemente monitoradas e caso se inicie a formação de nuvens escuras, interceder para que a atividade seja IMEDIATAMENTE interrompida e os praticantes sejam deslocados para local abrigado da queda de raios.

Atividades que utilizam cordas e outros objetos finos e compridos são os "preferidos" pelos raios. Se a corda estiver úmida será um fator a mais de atração de raios. Ao interromper a atividade, largue a corda sem se preocupar em enrolar e recolher.

6o Fator de Risco: Materiais, utensílio e revestimentos Metálicos

Alguns tipos de barracas são revestidas com uma camada de alumínio para promover a reflexão dos raios solares e assim manter uma temperatura mais baixa.

Qualquer material, utensílio como panelas, equipamento como churrasqueiras de ferro e revestimentos metálicos ou metalizados atraem os raios.

7o Fator de Risco: Grandes Eventos

Quando for organizar um evento de grandes proporções, já na fase de planejamento e de escolha do local, convide um especialista para estudar as condições de segurança contra a queda de raios. Assim, junto com as demais preocupações como inundações, deslizamento de terra, interrupção do acesso por queda de barreira ou rompimento de bueiro da estrada e possibilidade de picada de animais peçonhentos.

 

RECOMENDAÇÃO FINAL:

Senhores pais que irão autorizar a participação do filho em um acampamento. Saiba quem é o organizador do Acampamento, se ele tem experiência, se ele já realizou outros acampamentos e se ele conta com profissionais com experiência na avaliação de riscos de ocorrência de Desastres Naturais.

Atenção o tempo todo para o céu. Ao iniciar a formação de nuvens escuras providencie o deslocamento IMEDIATO dos participantes para local abrigado de Queda de Raios.

DO AUTOR:

Este site foi desenvolvido por Roberto Massaru Watanabe que é engenheiro formado pela Poli-USP, turma de 1972, especializado em Segurança e Salubridade de Edificações, trabalhou no IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, é professor de engenharia de segurança na UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas.

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RMW\Raios\Acampamento.htm em 11/01/2010, atualizado em 03/01/2015.