A figura abaixo mostra as principais forças que atuam em um talude:

A força S é a força da água que corre superficialmente e produz a erosão do terreno e, em alguns casos, a voçoroca.

A força E é a força denominada EMPUXO e ela empurra o terreno para fora do talude, causando o desastre:

Se, em vez de terra o talude fosse preenchido com água, como se fosse uma piscina, o empuxo teria o valor da pressão hidrostática:

Mas, felizmente, o talude é preenchido com argila, que por possuir uma cerca coesão, apresenta uma distribuição de pressão menor que a hidrostática:

Caso o talude seja formado por argila de boa qualidade, entenda-se Coesão alta, a força atuante sobre o muro será a combinação do Empuxo com a Coesão:

A Coesão age no sentido contrário à do Empuxo. Dependendo dos valores, será criada, então, uma Zona de Tração acima do ponto de Intersecção. O muro de contenção poderia ter a altura diminuída pois não há necessidade de contenção na zona de tração.

A Zona de Tração é sujeita ao surgimento de trincas verticais. Então a superfície do talude deve receber um revestimento que impeça a infiltração das águas da chuva pelas trincas formadas.

Embora o muro deixe de exercer a sua função de contenção e sua altura pudesse ficar limitada ao ponto de intersecção, não é confiável, a longo prazo, contar com a ação da Coesão, mesmo por que, a argila, sub a ação das intempéries, vê o valor da Coesão ser diminuído ao longo do tempo.

O peso da sobrecarga colocada sobre o talude também vai afetar o muro.

Consideramos como uma carga distribuída afetada pelo coefiente K.

A água represada no seio do talude na forma de lençol freático também exerce uma pressão sobre o muro.

A pressão exercida sobre o muro é uma pressão hidrostática a partir do nível d'água do lençol.

A força da água que percola no seio do talude arrasta as partículas finas da terra deixando no lugar vazios que irão produzir o adensamento do terreno. Forma-se lama dentro do talude e este desliza sobre essa lâmina de lama:

O resultado final é a somatória da aplicação de todas essas forças.

Algumas forças como o Empuxo do terreno e o Peso da sobrecarga serão permanentes.

Outras como a Hidrostática do lençol fretático poderá ser eliminada caso se instale um Bom Dreno. Mas não existe o dreno perfeito havendo sempre a possibilidade de colmatação.

Uma providência inteligente é prover o muro de caixas de inspeção por onde se possa, ocasionalmente, promover a lavagem do dreno impedindo a sua colmatação.

Outra questão que costuma dar problema é a confiança de que os tubos curtos de drenagem, conhecidos como barbacãs, irão conseguir drenar toda a água contida no interior do talude.

O barbacã só consegue captar a água que chega ao tardoz. Em muitas situações de queda de muro em período de chuvas intensas (nov-abr) os barbacãs se apresentavam totalmente secos

É importante fazer um bom levantamento geológico com a determinação exata do N.A. ao longo de uma linha até uma distância de pelo menos 3H para estudar o perfil da rede de percolação subsuperficial e instalar Drenos Profundos buscando a água além da superfície provável de escorregamento do talude.

Deve-se estudar também o "novo fluxo" que será criado pelo solo depois da construção do muro que irá, com certeza, criar Pressões Neutras no pé do muro.

FORÇAS LEGAIS:

Por fim, escolha bem o "tipo de muro" que será construído. Em muitas situações, o muro é desejado para o bom aproveitamento do terreno junto à divisa.

Não se pode esquecer de que o Direito de Propriedade, detalhadamente ordenado no Código Civil, não permite que eu construa "além do limite do meu terreno", devendo toda e qualquer construção, inclusive as fundações, ficar totalmente "dentro" dos limites do "meu" terreno.

Então, na alternativa do muro ser construído pelo proprietário do terreno de cima, todas as partes do muro, inclusive as fundações, devem ficar todas dentro do limite legal do terreno do proprietário de cima:

Não esquecer de lavrar um acordo com o proprietário do terreno de baixo para deixar passar o tubo da drenagem pelo terreno dele. Averbar o acordo no cartório de registro de imóveis na escritura do imóvel de baixo.

Uma questão delicada não pode passar em branco. É quando o imóvel de baixo já possui uma casa construída bem na divisa.

Caso seja adotado um muro de contenção do tipo "a flexão", não esquecer que o aterro irá produzir esforços sobre o muro à medida em que sofre adensamento e durante vários anos irá aplicar esforços horizontais cada vez maiores, provocando a flexão do muro. Havendo uma casa encostada, esta será afetada pelo deslocamento do muro.

Você pode deixar uma "contra-flexa" como se faz nas lajes, calculada para que na deformação final o muro fique exatamente na vertical:

Em vez do tipo "a flexão" melhor é adotar o tipo "com gigantes" pois deforma menos ao longo do tempo:

E, na alternativa do muro ser construído pelo proprietário do terreno de baixo, todas as partes do muro, inclusive as fundações, devem ficar todas dentro do limite legal do terreno de baixo:

Neste caso, tomar um cuidado muito especial quanto à sobrecarga no terreno de cima, pois, o de baixo não terá controle sobre o que o de cima, ou futuro proprietário, poderá construir lá, podendo construir algo com sobrecarga bem maior do que a que foi considerada como hipótese de dimensionamento do muro. Além da sobrecarga existem outras questões como a dos Drenos Profundos que foram instalados no subsolo do terreno de cima.

Também não custa nada trocar umas ideias com um profissional de direito que tenha experiência em Direito de Vizinhança e tratar de lavrar um acordo com o proprietário do imóvel de cima e averbá-lo no cartório.

Aviso ao engenheiro que fará o Projeto do Muro: Elaborar os desenhos do Projeto do Muro empregando linguagem "bem simples" de modo que qualquer leigo consiga entender sem muito esforço, principalmente estas questões que envolvem o Direito de Vizinhança. Depois, registrar os desenhos no cartório de registro de documentos. Se optar por Assinatura Digital, não esqueça de fazê-lo tudo de acordo com as regras de certificação da ICP-Brasil.

Se você usa algum Software, não esqueça de usar um Software em que você é o licenciado pois projetos feitos em software pirateado é ilegal.

Estude bem o Artigo 610 do Código Civil, em especial o 622, para ver como fica a sua responsabilidade quando o "seu projeto" é entregue para um empreiteiro qualquer e este não segue o que você projetou. Se daqui a 50 anos, quando você já estiver bem velhinho e já meio gagá, o muro cair e tiver vítimas humanas, você será chamado e responsabilizado. O advogado da outra parte irá alegar "erro de projeto" pois o projeto que você fez "não segue" a norma vigente. Num país como o nosso em que as normas técnicas mudam todo dia, imaginem como será a norma sobre Muro de Contenção no ano 2064!

RMW\talude\forcas.htm em 29/11/2009, atualizado em 23/12/2015.